De acordo com os conceitos supracitados, os exemplos propostos assentam numa abordagem centrada nos serviços e alternativas ao consumo tradicional, em vez de apresentar produtos que, embora criados com um propósito mais consciente, não deixam de ser produzidos de raiz, tendo um impacto maior do que um produto que já existe. Abaixo, apresentamos uma seleção do que acreditamos ser as melhores práticas para alcançar um consumo mais responsável:
• Eventos de loja de trocas (swap shop events) - eventos públicos onde os participantes trocam as suas roupas não usadas por outras nas mesmas condições. Um bom exemplo disso são os eventos organizados pela Fashion Revolution
• Vintage for a Cause que se define como uma marca de economia circular com foco no reaproveitamento de resíduos têxteis por meio do upcycling, ao mesmo tempo que empodera mulheres desempregadas com mais de 50 anos, onde o processo de design começa com a seleção de tecidos mortos (deadstock) resgatados.
• Béhen, que abraça o artesanato local português
Para mais opções, consulte Good on You, um diretório online que avalia marcas de moda com base na sustentabilidade do Planeta, Pessoas e Animais.
H&M Vamos fechar o ciclo é um programa de coleta de roupas que é considerado o maior do mundo na sua área. Lançado globalmente em 2013, em 2020, o programa já recolheu 18 800 toneladas de roupas e têxteis indesejados, o equivalente a 94 milhões de T-shirts. Este programa funciona tendo por base a ideia de as pessoas levarem os tecidos indesejados para a loja e receberem um voucher para uma próxima compra. As roupas coletadas são revendidas em lojas de segunda mão, ou processadas para criação de roupas de limpeza, de fibras ou de materiais isolantes.
Há cada vez mais marcas emergentes que já refletem sobre estes problemas na indústria do vestuário. No entanto, deve-se ter em consideração que não é possível catalogar nenhuma marca de moda como exemplo devido à falta de transparência dos seus processos e das práticas socioambientais dos seus negócios. Neste enquadramento, algumas marcas merecem destaque por apresentarem aspetos que podem ser considerados boas práticas:
• Uma deles é a Vinted, um mercado par a par on-line para venda de roupas em segunda mão, muito popular principalmente entre os jovens
• Outra é a marca portuguesa Nae, que utiliza materiais sustentáveis para produzir calçado, sem exploração animal
• A Knickey é uma marca de roupas íntimas de algodão orgânico, que oferece peças básicas para todos; as suas fábricas são certificadas pela Fairtrade Internacional – Organizações de Produtores de Pequena escala, garantindo o pagamento de um salário digno na maior parte da sua cadeia de fornecimento
Para mais opções, consulte Good on You, um diretório online que classifica marcas de moda com base na sustentabilidade do Planeta, Pessoas e Animais.
Consumidores e empresas devem ser igualmente envolvidos na observação e implementação de boas práticas.
Os consumidores podem procurar marcas sustentáveis que trabalhem e apresentem cadeias de valor de forma transparente, ou seja, em que seja claramente comunicado onde e como são extraídas as matérias-primas e como é o seu processo de transformação.
Também podem procurar marcas que respeitem as certificações ambientais como a Fundação Fairtrade (cujo site, entre outras informações, também disponibiliza materiais de campanha para alertar sobre o tema) ou a Fundação Fair Wear (cujo site também apresenta a estratégia da União Europeia para garantir os direitos humanos em têxteis sustentáveis).
Além disso, as empresas influenciam o comportamento dos seus clientes através das suas campanhas de comunicação, como fez a Patagonia, na Black Friday, com a sua campanha “Não compre este casaco“, que incentivava os seus clientes a não comprarem roupas naquele dia. Este tipo de campanha não só transmite ao público os compromissos e valores da marca, como também estimula o consumidor a ter um comportamento mais sustentável.
A Campanha Roupa Limpa é uma rede global ativa em 45 países que conecta pessoas de toda a indústria, organizações cívicas e sindicatos de direitos do trabalhador. Esta rede visa garantir que os direitos fundamentais dos trabalhadores sejam respeitados, educando e mobilizando os consumidores.
Como regra geral, deve-se considerar que, devido à falta de transparência nos processos e práticas ambientais, é muito difícil classificar uma marca de moda como um exemplo perfeito a ser seguido. No entanto, e de acordo com este enquadramento, algumas marcas merecem destaque por apresentarem aspetos que podem ser considerados como boas práticas, enquanto outras merecem destaque pela razão contrária:
● A Fundação Ellen MacArthur desenvolveu o projeto “Redesenhar os Jeans” no qual, com o apoio de várias marcas e entidades, foi elaborado um manual que demonstra que é possível criar e produzir calças de ganga totalmente circulares (desde a escolha dos materiais, ao design da peça e a possibilidades de reaproveitamento da peça no fim do seu ciclo de vida)
● A marca italiana Napapijri fabrica roupas e acessórios de inverno de forma diferente das marcas convencionais. Normalmente este tipo de roupa necessita de diferentes tipos de materiais para o isolamento e impermeabilidade; no entanto, esta marca conseguiu usar apenas um material (um tipo de polímero) para fazer toda a peça. O material é durável e facilmente reciclável, sobretudo porque não se mistura com outros materiais. A empresa também incentiva os seus clientes a reciclar casacos velhos e, assim, devolvê-los à marca em troca de um desconto a ser usado nos produtos da marca.